segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Capate

Em meio aos anos setenta surge uma cena especialíssima em Porto Alegre que se desenvolve através das décadas seguintes no que se convencionou chamar de música gaucha, MPG, rock gaúcho e variantes.
Era uma cena que vinha dos final dos anos sessenta , dos festivais de música da faculdade de arquitetura e de um movimento musical local um pouco associado à Tropicália , tendo como expoentes Carlinhos Hartlieb, o grupo Liverpool, Hermes Aquinos e parcerias tantas e variadas. Antes ainda, ou, ao mesmo tempo, a Frente Gaúcha com Raul Ellwanger e os irmãos Dorffmam, para ficar nesses. No inicio de tudo, Lupicinio, Elis Regina, Tulio Piva, outros tantos.
Mas, os anos setenta da ditadura militar, da luta armada, dos grupos de esquerda, da clandestinidade produziram o seu antípoda, o movimento ao contrario ao que o sistema de excessão produziu. Via  um hipismo norte Americano, um movimento  assolou o mundo no inicio da  década pós Woodstock e que negava,  se engajava numa luta que pregava o fim da Guerra do Vietnam,
Aqui nos chegou junto a novas bandeiras defraldadas a favor das minorias raciais, sexuais e comportamentais e tantas outras coisas.
Não foi nada muito fácil equilibrar-se , nesse inicio de tudo, como considero, entre uma direita, um regime que reprimia o comportamento anti-convencional, representado por nossos cabelos longos , roupas coloridas, uso  e abuso de drogas alucinógenas , rock and roll, e uma crítica a sociedade de consumo, e uma acusação da esquerda militante que considerava esse movimento fruto da alienação política. Uma geração que era alvo de um plano maquiavélico da CIA em nos drogar a todos. O que era dificil de acreditar e como se comprovou mais tarde , não tinha nada a ver.
Mas acho que foi só com a vinda , a chegada de Fernando Gabeira do exilio, na década posterior que  essa geracão se confirmou. A geração imediatamente posterior à geração de maio de 68. Geração abissal e até hoje, pouco representada e representativa na cultura como um todo.Mas, hoje ainda , dentro de uma visão crítica à pós modernidade , à globalização e ao consumo irresponsãvel e exacerbado, é visivel a presença daquelas primeiras reivindicações, de um grupo social novo que emergia da obscuridade de um sistema politico, de uma época confusa, á luz de uma reação ideologica, numa outra ponta.
Não é minha intenção fazer antropologia, ou, traçar linhas históricas, sobre épocas e periodos, mas, sim, contextualizar o processo criativo no periodo.
Eu e o Ricky Bols, que foi meu parceiro visual nessa empreitada , sem deixar de reconhecer ,também, a ousadia criativa do “ editor” Eduardo Oliveira temos essa preocupação..
Nesse periodo foram lançadas, de forma alternativa, naturalmente, algumas publicacões no formato envelope, invenção, até provar ao contrario, do Eduardo. Foram três exatamente: Pedra Mágica , uma coletãnea do pensamento e visão estética daquele momento, o Com Peito um manifesto psicodélico escrito por mim, entre 19 e 21 anos de idade, enquanto aprofundáva-mos uma outra experiencia, essa musical: o Ricardo Frota , mais o seu irmão Ronald e eu, fundamos o grupo  UTOPIA, batizado assim  pelo Peixe, amigo e agregador de psicodelias variadas.
Houve mais uma publicação do Eduardo , com poemas seus, creio que se chamava Sonho de Vidro.
Quando , ainda no mes de dezembro passado, o Ricky me passou um email dizendo que tinha encontrado o Com Peito e me  convidou para publicá-lo virtualmente na rede, achei muito interessante .
O Ricky me falou que gostaria de colorir os desenhos, que, no original eram em p&b, e eu me dispus a revisar o texto e rearranjar tudo.
Foi um impacto, pois me veio de roldão tudo que foi vivido naquele periodo de bom e ruim. Entendendo ainda, que as idéias que ainda se desenvolvem, no meu imaginário, foram aquelas sedimentadas ali naquele periodo, sob aquelas condições .
Mas, claro, vejo o texto, mesmo que revisado, e nessa revisão, ter excluido alguma coisa  e de ter  refeito outras , um texto manifesto do psicodelismo que experimentamos ali.
E é certo que esse psicodelismo está  mais para uma bad trip  do que para qualquer sensação de beatitude, promovido ocasionalmente pela ingestão de alucinógenos, pois buscávamos  nos equilibrar entre essas duas forças que falei anteriormente: uma à esquerda e outra à direita.
Mas, entre mortos e feridos, esta ai, antes de tudo um documento escrito e desenhado por dois jovens, muito jovens, que usavam ,  a titulo de expansão da mente, uma alteração da realidade, para melhor entende-la, para melhor se situar dentro dela.
Espero que o Eduardo ao saber dessa revisão não se importe com as mudanças feitas, pois , a tentativa é de esclarecer mais ainda , no formato desse texto, aquele período nas nossas vidas.
Dedico essa publicação virtual à Claudinha.
Até lá mil olhos!

UTOPIA

COM PEITO

Não existiam mais paisagens, belos lugares, perfeitas dissertações,
nem poesia, Mas, sim, um lápis grosseiro, uma sala, pessoas,
assuntos, gestos, confusões de silabas, línguas, goles ávidos
e ruídos que causam noites mal dormidas.

Ele chegou com tudo a seu pé (ao seu encalço), com o efeito da seiva que corria sangue ruborizando corações, pele, formando ângulos e gargalhadas, fora da hora, do tempo que vinha implacável. Traços.

Tinha em sua cabeça azul , um olhar impróprio, insolente.Nada queria além, nada o faria além. Ele sabia-se, bem depois, e... pronto!
Bêbado, andou por bares, esquinas, casas estranhas, senhor do ato, do prato, de sua própria
comida.

(E aqui, fala o observador imparcial que, por descuido, por
consequência, é o fiel da balança).


-Como observador imparcial, não vejo nenhum mal em repetir um ato desde
que seja sublime ou irremediavelmente mau.

Assobios, fétido odor, fumo forte e barato infestam o ambiente.
No dia do início, no primeiro dia, o grande espetáculo: a aurora
sangrenta, o amanhecer pecaminoso manchado com sangue
coagulado da grande artéria!, da divina artéria.
A dentro! A dentro!


E toda toca se fez escura, toda a armadilha em seu pé (encalço), mas não se cansava de ser o motivo, o único motivo de ser.
E o riso bestial , mortal, ressoava.

Mas, em qualquer canto seria o real, fosse o que fosse, fora da forma, do alcance... A sua
performance em teatro imundo, abaixo de sua alma.
Mas, era um dia de estrelas, uma noite de estrelas, como sempre.
Nada o abatia, nada o torturava, sons, prisões, gritos... Na verdade, tudo o impelia.
Percorria as ruas sem bandeiras, barreiras , coração solto.
E bebia, pelas ruas os rostos que se deformavam ao passar.


Oh! Tolos!

Compeito22a

CONTO

Mulher estranha aquela, magra, pálida,com ares de quem não quis voltar mais. O rosto ossudo salientava dois enormes olhos irriquietos (eles riam zombeteiramente). De pés descalços, o cabelo escorrido, caminhava lentamente por uma rua suja e deserta da grande cidade. Sua roupa colava com a chuva fina no corpo esquelético. Edifícios cinzentos, velhas casas, latas de lixo, postes, fios, poças d'água...Os lábios finos esboçavam um débil sorriso, como a aparência de palhaço, sem pinturas . Sim, um palhaco sinistro. As pessoas, que lhes pousavam os olhos, riam nervosamente. Um arrepio visível lhes percorria a espinha. Estranha sensação causava a mulher, presença marcante, e, por mais incrivel que pudesse parecer, quente, muito quente. A existencia não lhe fugia, não lhe negava o brilho, a arte de ser qualquer coisa, ela mesma, a estranha criatura.Parada em frente da vitrine de uma velha loja, ela olhava, olhava... Além do vidro e das coisas que se mostravam, deixava-se levar. Com os braços caidos, ao longo do corpo, com sua estranha expressão zombeteira, atingiu o homem que se encontrava no interior da casa.0 homem passava a ferro um casaco desbotado que algum tempo atrás poderia se dizer que era preto. Era uma loja de roupas usadas. Cheirava a mofo tudo lá dentro: as prateleiras, os cabides, os manequins, o sofá, um balcão, o espelho, o próprio homem.As roupas, não. Numa estranha combinação de cheiros, exalavam um cheiro peculiar de limpeza, de maciez, de cuidado.O óculos caía-lhe pelo nariz longo e meio torto, e, abaixo, um espalhafatoso bigode aprofundava-lhe a boca, deixando-lhe apenas um leve traço do lábio inferior - 0 homem largou o ferro sobre a lata de marmelada tostada pelo frequente uso, dependurou o casaco num cabide a solta por ali, como tantas coisas a solta naquele ambiente, e avançou para frente da loja, onde a mulher permanecia parada. Abriu a porta de leve, com cuidado,olhando-a com uma aparente interrogação.Tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu um. Deu uma forte puxada e soltou a baforada no meio da chuva fina e constante que caia.

-A senhora ai! Está sentindo alguma coisa? perguntou cautelosamente. Um som lento, de uma imagem lenta, uma rotação lenta passou pelos ouvidos da mulher,Um grunhido longinquo que a fez retornar. Olhou a vitrine, o vidro, sua imagem, os manequins...Aquele homem ali falava-lhe alguma coisa, pensou, mexia a boca. Seus olhos vasculharam o que tinha a sua frente se fixando no letreiro acima da porta que dizia: "UM CÉU PARA TODOS", roupas usadas –compra-se e vende-se.A tinta marrom do letreiro sobre o fundo azul claro estava sumindo, a chuva, o sol e os anos levaram.

A mulher... seus olhos riam zombeteiramente. -He! Como é que é? Vai ficar parada ai o tempo todo? Precisa de alguma coisa? Tornou a perguntar o homem.A mulher olhou-o friamente. 0 homem assustado não deu um passo, o cigarro lhe caiu do meio dos dedos, a boca se entreabriu. Um arrepio.- Sim respondeu a mulher com sua voz grave, remodelando a expressão desvairada, para um rosto, extremamente simpático e agradável, ou, o que poderia parecer ser.

-0 senhor poderia dar-me uma informação, perguntou a mulher, dando alguns passos em direção ao homem que se movimentou bloqueando a porta de entrada da loja, a mulher riu disfarçadamente , virando o rosto para o lado, para o chão, deixando uma ponta no seu olhar mirado, firme, fixado.-Talvez possa a ajudá-la respondeu o vendedor de roupas. 0 que quer saber? Perguntou.

-Ah! 0 senhor poderia me dizer que dia é hoje? Perguntou a estranha, encurvando o corpo, apertando o polegar ao indicador da mão direita, num gesto de precisão, detalhe, mordendo o lábio inferior. -Ora, hoje é dia vinte e três de dezembro, minha senhora. Silêncio. É só isso que quer saber? -Não, respondeu secamente a mulher, o ano, qual o ano? Ansiosamente torcia as mãos, contraindo a musculatura das costas, dos ombros, do rosto, apertando o olhar.-Puxal A senhora perdeu-se no tempo? Hoje e vinte e três de dezembro de mil novecentos e noventa e sete, respondeu o homem espantado. As palavras do homem caíram-lhe como pedras pelo corpo, jogadas contra ela.

-Mil novecentos e noventa e sete...balbuciou a mulher. Tudo igual. Mil novecentos e noventa e sete... Tudo igual. E voltou por onde já tinha caminhado, descendo a rua, cabisbaixa. 0 homem sem saber o que mais dizer, se contentou em segui-la com o olhar da “ porta do céu” que já se fazia longe. O homem não mais ouvia o balbuciar. Mil novecentos e noventa e sete...Tudo igual... Tudo igual...

- Em verdade não vos digo mais, não vos falo mais. Esqueço-vos em minha própria imensidão de não ser nada. Mil novecentos e noventa e sete... Tudo igual... Bem distante, o homem fechava a porta e, bem distante da porta, a mulher percorria as ruas, as poças, as poças...Em verdade... tudo igual. E riu zombeteiramente, desvairadamente.

RECORDANDO

Nos dias de agora em que meu rosto tange a borda da solidão,
e que a lágrima mescla meu silêncio inquieto e a vida lá fora.
Dias de agora em que minha irrealidez tamanha rompe os vícios e os desejos estranhos , deixando cair um sonho de os viver sem engano, sem asfixia.
E meu coração, que num grande sino se tornou, por fim bate, marcando por cantos minha imagem, minha solidez refletida nas lembranças que se abrem em frente, de encontro a mim.

recordando

OBSERVADOR IMPARCIAL / DELÍRIO UM/CONTO

OBSERVADOR IMPARCIAL

E as pesadas cortinas do teatro se abriram,
nos mostrando a ferro e fogo a existência em infinitos atos,
em infinitos pratos de iguarias tentadoras.
A dentro! A dentro!

DELIRI0 UM

Sobre suaves ondas sou o aspirar o novo ar, o roçar dos dedos em teu corpo frágil, sinuosa melodia.
Tua imagem se esfumaça em mim, e, em tuas cinzas pousa o meu olhar.

CONTO

0 céu macilento e escuro roncava com momentos de clarões.Não eram trovoadas ainda, nem, tampouco, os clarões eram relâmpagos que riscavamo céu. A tempestade se formava com calma e segurança. Despencaria afinai.
Primeiro, as nuvens, encobrindo a madrugada de estrelas., depois, o vento silenciava como que esperando, ou melhor, dando passagem a chuva que cairia grossa e aliviadora.
As ruas vazias e iluminadas do centro da cidade davam impressão de abandono. Pequenos pedaços de papéis voavam rasteiros com a ajuda de um sopro de vento alheio aos desígnios no céu , continuando a mexer,a tocar no que restou no grande picadeiro. E se perdia em esquinas.
Entidades, elementais urbanos, pequenas entidades. Mágicas.
Tudo estava morno. As bestas, suas moradias, as jaulas, o grande circo, seus papéis. Tudo estava morno. E o tempo bêbado defecava pela boca de um homem atirado entre sacos e jornais na entrada de uma pequena galeria.
Arrotava, cuspia sua importância - A tempo, sou indispensável!
0 hálito da cantoria cambaleante e trôpega do bastardo exalava o seu peito.
Seu coração...aos pulos, estupefaciente.
E nada no mundo o faria mudar de papel. Ele estava certo, era o único que vivia, que usufruia da vida, não apegado a ela, que lhe tornou tão presunçoso. Ele era o salvador, o homem que redimia os pecados, o homem que pedia aos pobres. Os lábios inchados se esgaçaram e a boca se abriu numa gargalhada.
Seus pensamentos... Ah! Seus pensamentos.
Com dificuldade, arfando, levantou-se procurando segurar com uma debilidade aparente o seu corpo embebido em alcóol. Gostava muito dessas sensações, pensou. - Pôr-se em pé, quando as circunstancias exigem que fiquemos deitados.
Sangue frio na velocidade de uma possibilidade qualquer. O limite, o contato com o fim.
É preferível que se sofra uma queda, do que nunca levantar. Embaraçoso, não?
Ensaiou dois passos a frente, deu um para trás e deixou cair o seu peso sobre os sacos de estopas e jornais que o aliviaram do chão duro, da queda. Exibiu seus dentes sujos ao som de gargalhadas que o sacudiam todo.
- Acordem! Acordem! Seus pobres coitados. Andem! Pulem de suas camas! Vamos logo! Hoje eu começo mais cedo.
Dêem-me suas esmolas que os fará dormir outra noite de limpa consciência e ter sonhos que não entendem.
E ria, ria a valer, quase que não deixando-lhe respirar.Sua mão batia na calçada e suas pernas balançavam no ar. Seus olhos escondiam-se por trás das pálpebras. Realmente um todo eu alucinado pela diversão da percepção apurada.
Passou-se algum tempo em que o homem tornou-se o próprio silêncio. 0 rosto queimado pelo sol escondia-se por detrás da barba negra e espessa.
0 olhar penetrante quando semicerrava os olhos, dava-lhe o ângulo exato das coisas. Sabia usar o que possuía e acreditava no que via, trazendo-lhe a consciência de si mesmo e do que lhe rodeava. Ele sabia.
A chuva começara a cair. Os relâmpagos riscavam o céu agitados, seguidos de estrondosos trovões.
0 homem não se abalou, deixou a chuva cair sobre seu corpo, chovesse o que tinha que chover.
Era uma alegria participar de um temporal.
A manhã nascia clara, fresca, trazendo ao centro do dia a dia, os fenômenos, os realismos, os fantásticos, os gritos, o aplauso, a violência, a intolerância, a vaia.
Um movimento iniciava toda uma estranha vida.
0 homem levantou-se, molhado até os ossos, com um sorriso satisfeito.
Caminhou até a rua principal, onde com um silencio cuidadoso, com
concentração, estudou sua estratégia.
Tragicamente atirou-se na calçada, com a voz embargada, implorou:
- Uma esmola ao pobre homem, pelo amor de Deus!
Tilintar de níqueis na calçada. Menos um pecado.
Deus lhe dê em dobro minha senhora, em dobro!
E riu baixo, divertido.

DELÍRIO DOIS / CONTO

Será este rosto agora que me fita e me fixa na parede, que mostra a mim olhos tristes ao fundo de uma lágrima, que goteja sem ruído, e que suavemente se dilui em meu coração, será este rosto o meu?

Compeito25a

A porta do banheiro da velha casa rangeu toda e se escancarou. Os fracos raios de sol entravam pela basculante tocando , numa leve caricia , o piso de laje úmido e frio. As paredes manchadas pela umidade, o cheiro da doença, aquele branco angustiante, hospitalar. A sala de uma tortura infinita.
A frente, segue-se um corredor escuro com portas pelos dois lados. Mudas.
Na outra extremidade, a porta maior, a que não permitia o dialogo, o bater, o constante entra e sai da vida nas casas, da vida nas portas. Pela esquerda, uma abertura separava, com uma cortina de veludo espesso, quase negro, o corredor, de uma pequena sala. Lá dentro as pratarias, uma cristaleira, um trio de veludo desbotado e sujo. No piso, uma mancha retangular clara de um tapete que deixou a marca do seu tempo.
0 eterno tapete. Mais uma cicatriz na casa. Um pêndulo.
Esticada, sem tocar o chão de madeira, a cortina movia-se lentamente e um vulto magro acariciava-se no tecido ao passar.
Vida? Antes fosse. Resto dela, somente.
Pela janela infiltrava-se um pouco de luz do dia.
Uma mão ossuda tocava levemente o ombro esquerdo de seu próprio corpo, onde apoiava o seu queixo. Os olhos cinza, sem brilho, olhavam o sol dourar a copa das árvores, a rua que serpenteava a uns cem metros da pequena cerca do descuidado jardim onde tudo jazia.
Seu rosto amargurado e enérgico, os cabelos grisalhos puxados para trás, presos a nuca, o corpo disforme pela magreza tísica, fundia-se no vidro,na madeira, no céu claro que parecia sustentar aquela imagem, ao fundo.Parada ali, todas as manhas se entregava ao passado, olhando ao longe.
Passado esse, entrecortado por tosses secas que morriam abafadas por aquele pesado silencio vivo.
A morte pouco a pouco se infiltrava naqueles seres. Sim, os seres.
Havia um pálido menino, nos seus olhos brilhava sinistra a extrema loucura de sua alma. Cabelos lisos e muito negros caiam-lhe pelas orelhas, testa e pescoço.
Sentado numa poltrona atrás da mulher, mexia-se nervosamente. Algo o deixavainquieto. Balbuciava estranhas palavras com uma voz desagradável, um riso e uma baba solta que caia.
A mulher, com seu lenço, agachava-se e limpava-lhe a boca retorcida, disforme pela sua anormalidade, e voltava ao seu ponto de observação, onde as imagens, que se mostravam lá fora, nada significavam. Se transpunha, sempre se transpôs, a vida toda e a própria vida. Ela, a morte eminente.
E um após o outro, os anos vinham-lhe nítidos, cheios de tristeza e alegria. Felicidade não, pois não a conhecera, era uma estranha, não a admitia.Nunca viveu seu presente, não o quis, não o desejou. Sempre andou muito longe de si mesma.
Tudo seguia-se num ritmo rotineiro., a doença, sua companheira mãe da própria loucura , tão serviçal e poupadora de trabalho e preocupação.Mas tudo se acabaria entre os dois últimos. Ela não mais queria, sentia-se cansada, porém, nada iria fazê-la alterar a natureza das coisas, a ordem das mesmas.
Nada poderia mudar o curso daquele rio, não ela que tinha consciência da divina mão que tirava e dava, assim como sufocava.
0 silencio se fez maior. Nada se escutava, nada se ouvia. Os estranhos grunhidos do garoto tinham silenciado.
Não se encontrava mais em sua poltrona, toda sua.
Uma eternidade.
Seguiu-se um baque surdo de um corpo em queda, um ranger de portas.A mulher lentamente retirou-se da janela e passou pela cortina que parecia querer estreitá-la, retê-la para sempre ali.
Pelo corredor à direita, a porta do banheiro escancarada mostrava-lhe o corpo pequeno do garoto, caído grotescamente por cima do vaso. Um estilete frio cravado no peito. 0 sangue escorria pelo corpo nu de um branco azulado, quase transparente, gotejando da laje úmida, no chão,formando uma pequena poça.
Silêncio.
Um acesso de tosse. 0 farfalhar da pesada cortina ao passar do corpo. Um ruído de trinco se abrindo e o vento frio da tarde, livre, percorreu as peças mudas e trancadas entrando por entre frestas, sabendo dos seus segredos.
A porta rangia.
As cortinas balançavam-se ao som da estranha melodia, sujas, com o sangue do menino morto.
Tosses...
Tosses...

DELÍRIO TRES / OUTRAS ABERTURAS

Com peitopg6

LUZ, SABER e DOR

E aos olhos que sempre escorregam
de seu piano visual ,
a minha flor de sangue ofereço...
Brota do censo
em meio ao pântano humano,
e no meu coração cigano cravo um punhal,
Tiro o sal dos teus cabelos,
o mel dos teus seios.
É a minha língua pendente,
o úmido e único tapete
para teu caminho inerte e inconsciente, teu arrepio.

Compeito23cor

DELIRIO QUATRO

E não quero mais dizer que quero.
Estou em sintonia, não me perguntes.
Não prefiro, não escolho.
Deixo a chuva cair em meus cabelos a levar na enxurrada meu
pensamento, um estorvo, meu cansaço, minha pretensão
de ser sempre algo palpável.

E comia torta de morangos todo dia, esquecia de alguma
fina camada que se rasgava. E, mostrava-se a si um raio do
circuito elétrico, faíscas a saltar dos olhos.
Sua dor profunda partiu do peito, me querendo em moradia.
E esperou que o sol dormisse na linha aparente
e que a lua boêmia, embebida de noite surgisse.
Do seu ponto, de sua porta cor de rosa saiu
deixando dentro do seu cofre de aço
sua face esquerda tão diferente,
seu coração ardente
e a partitura musical que escreveu.
Madame Light Clair
que imaginavamos um Rolls-Royce,um belo passeio,
não tomou sua champanhe ao por do sol,
não foi nem a um funeral.
E sem limites a procurei
por detrás das portas,
das costas da consciência,
nas profundas fossas do sol...
E dentro de um piano
em concerto para raros a encontrei.
A puxei violentamente,
lhe arranquei das adicionâncias
que a negariam a mim e a tantos,
Lhe mostrei crânios, cabeças, pensamentos
ao querer lhe possuir.
Até que cansada por minha embriaguez,
se entregou ao momentos que faltavam
para a visão apocalíptica da insensatez.
Ao meu olhar que não desviou,
expôs a luz azulada e fraca daquela estranha vida.
No cântico sereno do lago do seu olhar lavou minha cabeça,
massageou com carinho meus cabelos.
Meu coração se in-findou no seu eternamente.
Light Clair me falou
do outro lado do sol.

DELIRIO CINCO

Por delírio aqui o que me recorda um toque de dor e escuridão
que se estabeleceu ao longo do tempo, em toda a sua extensão,
enquanto flutuávamos e projetávamos o futuro que jamais se poderia sonhar mas que era da natureza dele mesmo, o nosso, Um dia assim de delírio, no silencio da bolha de um planeta selvagem.

Te observo agora, com ironia.

BOLA

PERTURBAÇõES

Pois meu sonho não mais se culmina no
acordar, mera continuação das imagens
agora feitas passos,atos e palavras,
agora fatos, pedaços de vida.
Nessa louca fusão
do sonho e do tudo real,
sou pêndulo,
sou o marcar das minhas horas, o crispar das minhas mãos.
E jaz meu corpo torto em aço,
em cama estranha, em teto claro,
em plena escuridão., espinhado, espinhento.
Rebento as asas, em consequencia de coisas estranhas.
E saio da casa a caminho das ruas,
das ruas...das ruas...
E agora, em que apagou-se as luzes,
novamente afundo-me na cama.
E, na penumbra que não se tornou um olhar furtivo,
deixo-me arrastar por caminhos sempre estranhos a mim.
Sedutores, inconsequentes.

Mas, no meio das chamas,
teu grito crepita e azula,
teu corpo enrijece,
0 momento incandesce
e se anula no teu olhar
que se joga num lago sem vidas
de águas profundas.

Te vejo assim como és
envolto em raios, iluminado.
E te arremesso ao cuspir
no chão imundo.
Até que, como uma larva,
te transformes
em borboleta prateada
e viva tuas poucas horas
de flor em flor
com o movimento
que te dá vida

Compeito21aa

Já sem palavras,
me repito em atos.
E fito o mito
que se transpõe a luz
o saber
e a dor.
Mas com os dias,
se mostra o fato
de viver um grito,
sem roçar a gula,
sem cair suor.

Sou a carne crua
agora em que me mostro nu
e que me ofereço.
E não me satisfaço
com teu olhar somente...
Abro a tua boca e grito –
Quem está ai?
Quem sou eu assim teu diferente?

No tempo,
a informação informa
meu segundo em vida,
na emoção de sentir,
de viver o teu.
E leva ele contigo,
sabendo da rota,
da meta que já se faz,
que me levou para longe,
fora da rota,
da meta que já se faz.

De mar em mar,
hoje flutuo,
nem mais navego.
Não sulco mais.
Abordo somente a primeira dama,
que somente vaga,
que somente paira.
De mar em mar,
hoje transcendo
em constante roçar,
caricias suaves das ondas
que exterminam meu casco.
De mar em mar,
Amanhã afundo.
De mar em ar,
levo comigo a dama
e a afogo.

Muito aberto e escancarado
meu peito abocanha
o que fantasmagoricamente
paira na estrada.
Vindo de longínquos pastos,
de campos vastos,
verdes de sonhos e passados.
Parado entre as ruínas
observo:
0 rotineiro ciclo das coisas,

qualquer fim, qualquer começo

E esses animais que infestam
meus olhos, ouvidos e mãos,
enterrarei na terra fértil,
ao cair da tarde.
E por longinquos campos
retornarei a um tempo que eu queira:
No cheiro da terra molhada,
num tronco de arvore.
Meu corpo fundir-se-á
em minha volta
ao começo de tudo.

La fora atravessou a mascara na face.
E de um corte profundo no peito,
jorrou toda sua incerteza.
Me esfriou, enregelou, dificultou meu respirar.
E me aspirou.

DELIRIO SETE

Foi esse meu ultimo gesto:
um ferro em brasa que rasgou meu corpo, queimou minha alma
e fez de mim o que sou.
E com meu pé de rosas sentei por detrás da arvore e arrisquei falar
da sua importância, da sombra, do sentido aberto, de que nada falha.
Mas, de minha boca enorme só saiam bolhas, folhas caiam ao chão,
vendo cair a poeira, o sol para o seu lado certo.
E eu tão inquieto, pétala por pétala, comi as flores.
Oh! dores, outono de um mês qualquer.
Nada pude fazer.

E por uma quase e invisível fenda,
foi-se mais um dia.
Sumiram estrelas,
luar e a noite quente
gente, vida, vinho...
Foi-se tudo.
Eu, minha consciência.
Nada restou.
Nem meu presente.
Apenas uma quase e invisível fenda.

E com minhas vestes de bobo,
tolo ficastes.
E acreditastes porém,
que, se de bobo vestisses teu corpo,
irias fazer rir como eu,
chorar nas noites
e morrer para o tempo.
Tolo ficastes
sem saber das tuas próprias vestes.

PALAVRAS DO OBSERVADOR IMPARCIAL

Por meio, um segredo
oriundo das setas,
se altera e desvainece
em plena insuficiência-in,
correndo por labirintos feitos,
estreito caminho.
Desfazendo o pacto,
no ato do fato consequencia, na velocidade das luzes.
Permanência então da artimanha,
do teu cada passo dado
solado na sola de um sonho todo nosso de cada dia.

A palavra que dizes
sempre antes para ti,
incompreensível sim
mas verdadeira,
pois verdades se criam
nos espaços e no tempo
como música.

Nada segreda nada.

n Não queria que minhas flechas ferissem,
mas, que indicassem como sinais.
Que não sangrassem,
que tocassem tua compreensão
com a mesma dor
que trazes contigo.
Sei que bom arqueiro não sou,
que atiro com força
e que não meço distância
Mas tenho que lançar,
já que possuo.
Ainda que rasgue teu peito
e o meu
até que a suavidade do ato
se torne a parte
que falta em mim.

Compeito301

Fumaça solta no ar,
mil olhos expressivos a olhar
o vazio profundo da luz vermelha
que invade a peça
e o nosso âmago.
A iluminar os caminhos da linguagem
expressa em meios,
rodeios e dilacerações de gargantas,
língua e dentes,
respiração, cabeças e olhos, uma maneira tão lenta e confortável de se movimentar no mundo.
E escutamos vozes longínquas
de um estranho mundo de dimensões
onde vive um velho sábio amigo nosso.
E numa estranha sequência,muito rápidamente, somos conduzidos,
para fora das grades,
além do divino e do sobrenatural.
E cada nota é uma vida,
cada vida é uma nota...
não, não, não é não
Leva consigo a sua (nota),
soe bem ou mal.
Ela!
Até o fim da sequência.
Mais outra porta.
Até lá mil olhos!

q Que de certo tudo mudou onde o tempo esgota.
Que de certo tudo calou onde o silencio é o
que mais ensina.

luzes, luzes, luzes, luzes...

s Serão ponteiros que marcam
meus olhos a te fitar.
Será corte, ferida na carne,
minha mais nova canção embriagada.
E, talvez, então,
numa bela tarde,
noite ou madrugada,
tua voz se faça ouvir
bem mais clara e nítida,
como agora teu coração
E que te estrangule
pelo teu estúpido pensar,
e te deixe
inerte em tuas próprias mãos.

h Homem meio
meio a um homem
Será feito
Seja feito
Desfeito
um meio
homem um meio
Homem e meio
Não será
Te esgota...
Até cansar.

Compeito20AA

Já faz algum
tempo atrás
Não importa
quando,
nem o que passou.
O que importa
é que foi a algum
tempo atrás.

luzes, luzes, luzes, luzes...

s Ser o que se coma,
soprar o vento
em direções,
como iluminar...
ser a rotação
em que gira a terra.
ser oriente
e ocidente
e rolar,
rolar...

a Anoiteceu,
e é prenuncio,
lusco-fusco.
piscadelas psicóticas saicodélicas
Cérebro, coração...
Cérebro, coração...
Cérebro, coração...

Anoiteceu
e é prenuncio.
Somente passos
nos corredores passam,
coisas, etc de todos os tempos.

dDa sequência , o que se tornou ?
afora pólen que me alimenta,
todo...
após meu gesto,
meu canto.
No entanto,
sutilmente,
arranha meu peito,
uma nova forma:

Finque
Finque
Finque
Finque
Finque
Até sangrar!

m Mal-cheirosa, entumescida
flor do mal, do pântano
povoa.
Asquerosa, cruel
flor do fel, do nojo-asco
povoa.
Por mil anti-falantes
a semear.
Ao sêmen,
nova é a vida
segredada nas antigas paredes e nada impera nem o teu império de miséria, nem no teu império de feridas.

Ruínas, ruínas são teus olhos.
Ruínas, ruínas é meu peito.
Ruínas, ruínas, ruínas feito.
Ruínas feito a mal-cheirosa,
Entumescida flor do mal,
do pântano
povoa.

e E dos meus dentes
que já te mostrei,
a noite ela me disse
que fazem ruídos estranhos
que nem sei.
E agora vens
com teu riso irônico, com a tua violência
a colocar
por entre eles
tua cabeça.
E eu cá,
com a boca aberta
e o pensamento solto,
inerte a te fitar,
e tu a rir

a Alimentei-me hoje
de uma ousadia,
em gritar
com brados forte,
meu gesto gasto.
Há muito que seria um olhar.
Há muito que seria
um estreitar de almas, um apaziguar,
sem me alimentar
infame assim,
do que já vivi por ti:

a nossa tão mesma.

c Conforta,
comporta,
entorta na porta
essa vã existência.
E prende
o líquido solto, por onde fluis em tontas ligações com a terra.
Confere,
difere,
espere na porta
sua vã existência.
E prende
o gosto da raiz, rezina
que não mais importa,
que não mais conforta,
que não mais comporta.
Entenda
que essa é uma porta.

Não parta
Fique por perto,
que por certo se abrirá
sem nossos uivos, sem nossos uis.
Macia e pestilenta.
Cure-a, cruze-a,
transpasse-a,
e deixe-a

f Fiz da rebeldia, toda a folia
escondida em bocas
mudas e fundas.
Tombaram em meu leito
muitas facadas.
E de criança,
em campo aberto, ventanias em que cresci,
lembrei-me da doença
com a qual me assustavam,
onde persisti viver.
E agora,
também calado,
mudo e pálido,
fico a espreita...
fico a espreita...

Fui lá ver minha dor crescida,
madura e decrescente,
que num belo dia me deixou.
Vi de perto
aquele seu imenso amor pelo mar,
que em ondas a acariciava.
E ela lá, despudorada,
se entregava deliberadamente.

s Será de meu amigo,
que meu amigo é,
ou mera ilusão?
(Oh! trajes
que todos vestem
e jamais despem.)
E o festejo se insinua
de festa,
se insinua e infesta
de um zunir
tonto de moscas.
E então, meu amigo, que de meu amigo
diz ser?
Nessa abundante
alegria que habitas
jamais posso viver.

Se não for agora,
quando seremos
uma vez por mês,
uma que outra vez,
um amanhecer
e chorar.
Se não for agora,
quando ouviremos
uma vez por mês,
uma que outra vez,
um momento ao vento,
um eterno alento.
Quando medirás?
Quando me dirás?
Quando me ouvirás?
Sem receio,
sem por certo
se enrijecer
e fecundar a fria
fúria envolvente
que se arrasta
pelas ruas.
Alerta!

v Vento, vento...

Diga aos coqueirais

avise de um inverno temporal,

de um frio distante,

de geadas,

de um gemido

sonolento e agitado

no canto qualquer

de um peito

que silenciou

tudo isso.

Vento, vento...

Conte aos coqueirais,

fale de um sol distante

que se prolonga por meses,

de uma alegria angustiada,

de gelos nas calçadas

amanhecidas

por trôpegos sonhos

e desesperadas neblinas,

que querem viver em tudo isso,

também tão nosso...

E nós e eles.

Vento, vento...

como é duro esse acordar.

vin2

Ser tudo o que se possa ser,

e viver constantemente,

intensamente,

todos os papeis

que aparente importar

a uma existência.

E da fria coerência,

escapar das garras

que nos prendem.

Ser:

Lua cheia...

Noite, dia...

Névoa...

Vento...

Relva...

E...

vin

Ser filho que acalanta

em devaneios,

ser filho que divaga

em acalanto,

e que, em pranto seco,

relembra com saudade

sua lágrima que já rolou

aos pés de pessegueiros

ao cair da tarde.

Ser filho que brada

em pensamentos,

ser filho que pensa

em brados fortes,

e que, em insana

loucura palpitante,

relembra com saudades

com risos estéreis, infecundos,

seu espírito solto

que se enlaçou nos pessegueiros,

ao nascer de uma manhã.

Oiviradoipirangasmargensplacidasdeumpolvoeroicobradoreturbante

n Não eu que me afino

perante um erro maior,

sem erro nlnguém...

Não eu que me semeia

perante uma morte maior,

sem morte ninguém...

Não eu que me enrijece

perante um juízo maior,

sem juízo ninguém...

Não eu que me ilumína

perante um nada maior,

sem nada e alguém.

Que eu,

não eu,

sei de nada.

UTOPIA / PASSARO DAS CAMPINAS

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PÉTALAS / CONTEMPLAÇÃO MEDIÚNICA

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DE MANHÃZINHA

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CONDUCION / ANOS SETENTA

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BLUEBIRD / FOLHA EM BRANCO / DESCARGA ELÉTRICA

bluebird

folhaembranco

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final

rickybebeto

Com Peito   Bebeto Alves 

Desenhos Ricky Bols 

Editor Eduardo Oliveira 

Composição Claudia Lisboa 

Fotos Adolfo Alves Laboratório Ari e Vilmar